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Esta página é a Página de Abertura do Atelier de Interpretação das linhas Sísmicas especialmente preparado para os geocientistas Angolanos encarregados da pesquisa petrolífera da bacia do Kwanza.
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Por razões de confidencialidade, muitas das linhas sísmicas originais foram substituídas por auto-traços feitos automaticamente, utilizando o software Canvas 16 (windows) ou feitos à mão, nos quais os reflectores sísmicos mais importantes e significativos foram decalcados em continuidade. A figura acima é um auto-traço (Canvas 16) de um arquivo pdf de uma linha sísmica recente tirada no onshore da bacia do Kwanza (Angola). Este auto-traço pode ser facilmente interpretado em termos geológicos, se o geocientista, encarregado da interpretação, souber, a priori, o que nele deve procurar.
Nas tentativas de interpretação geológica das linhas sísmicas ou dos seus auto-traços, a Teoria precede a Observação (K. Popper, 1934). Se o geocientista encarregado da interpretação geológicas das linhas sísmicas não sabe o que é um delta de lava ou uma bacia de tipo-rifte, é evidente que ele não pode identificar, quer no auto-traço quer na linha sísmica original, a imagem sísmica de um delta lava ou a de uma bacia de tipo-rifte. Por outro lado, o geocientista não deve confundir o " Ser " como, por exemplo, uma bacia de tipo-rifte ou um delta lava com a " Representação do Ser " ou seja a imagem sísmica de uma bacia do tipo-rifte ou de um delta de lava. Se o geocientista conhecer o contexto geológico regional e global da bacia do Kwanza e os principais modelos geológicos, ele interpretará, fácil e tentativamente, em termos geológicos, este auto-traço, mais ou menos, como ilustrado na figura abaixo.
Nesta tentativa de interpretação geológica do auto-traço precedente, ou seja, do auto-traço de uma linha sísmica do onshore da bacia do Kwanza (Angola), é evidente que o geocientista que fez a interpretação sabia a priori que : (i) A bacia do Kwanza (onshore e offshore) corresponde à sobreposição de vários tipos de bacias sedimentares da classificação de A. Bally e Snelson (1980) : a) Um substrato precâmbrico de rochas granítica ou uma cintura dobrada de idade Precâmbrico / Paleozóico que formam o embasamento, no qual, localmente, se podem encontrar sedimentos do Karoo (conjunto de unidades sedimentares, principalmente de origem não marinha, depositadas entre o Carbonífero Tardio e o Jurássico Inicial) ; b) Bacias de tipo-rifte de idade Jurássico Tardio / Cretácico Inicial e c) Uma margem divergente do tipo-Atlântico. (ii) As bacias de tipo-rifte se formaram durante o alongamento da litosfera do Gondwana, o qual precedeu a ruptura da litosfera ; (iii) A ruptura da litosfera se fez, principalmente, por injecção de material mantélico que, pouco a pouco, se tornando predominante individualizou as placas litosféricas da América do Sul e da África ; (iv) A ruptura da litosfera é sublinhada por uma discordância importante, chamada discordância da ruptura (BUU), que nesta tentativa de interpretação está colorida em amarelo ; (v) Desde que a ruptura se efectuou, as placas da América do Sul e da África sofreram uma significativa acreção vulcânica por empilhamento lateral de escoamentos de lava (SDRs) que os centros de expansão subaérios expeliram em direcção dos cratões ; (vi) Depósito dos sedimentos infrasalíferos da margem divergente podem, localmente, atingir espessuras importantes como se pode constatar nesta tentativa de interpretação ; (vii) Se depositou um intervalo evaporítico (Aptiano) ; (vii) Por cima do intervalo evaporítico se depositaram os sedimentos retrogradantes da fase transgressiva do ciclo de invasão continental pós-Pangéia ; (viii) Por cima dos sedimentos transgressivos, se depositaram os sedimentos progradantes da fase regressiva do ciclo de invasão continental, que fossilizaram a superfície de transgressão máxima do Cretácico, ou seja, a superfície de base das progradações principal do ciclo de invasão.
O conceito de modelo geológico varia dentro de uma enorme gama de significados. Na literatura científica, e em particular na Geologia, palavras como : paradigma, homologia, símile, analogia, figura, metáfora, explicação, teoria, catacrese, artefatos, exemplar, etc., são, muitas vezes, sinónimos de modelo geológico. Os geocientistas, para representar a realidade geológica, utilizam a construção de modelos, por vezes expressos na linguagem compacta da matemática. Eles tentam codificar as experiências do mundo geológico real por símbolos e regras dentro de um formalismo matemático para, em seguida, fazer uso deste formalismo para avançar predições.
Da mesma maneira, a palavra observação geológica ou geofísica, tem o seu próprio espectro de significados. Estes variam desde as observações feitas por geocientistas ingénuos (inductivistas), totalmente ignorantes do contexto geológico, visto que eles pensam que as teorias podem prejudicar as observações (tabula rasa de Aristóteles e John Locke) até às observações feitas por geocientistas racionalistas e críticos, que sabem o que procuram e que conhecem os modelos geológicos mais prováveis. Para a maioria dos geocientistas não há observações geológicas "puras", ou seja, observações sem uma componente teórica importante. Na realidade, todas as observações geológicas ou geofísicas são interpretações de factos à luz de uma ou outra teoria.
As observações e factos do mundo geológico são os tijolos a partir dos quais os geocientistas constroem os modelos que são, simplesmente visões da realidade geológica. Contudo, cada um desses pontos de vista é apenas uma pequena fatia da realidade, ou seja, uma peça do puzzle geológico. O processo de juntar as peças do puzzle, para formar imagens cada vez mais precisas, é o que em Ciência se chama modelo. No jargão geológico uma observação é um traço de memória deixado no cérebro dum geocientista, quando o mundo exterior se imprimiu nele (imagem ou representação mental interna) através dos seus canais sensoriais da visão, audição, tacto etc., o que quer dizer, que :
" um geocientista não vê com os olhos mas com o cérebro ".
Na abordagem do sistema geológico, isto é, do " Todo ", uma observação é feita sempre no âmbito de um modelo, enquanto o modelo é criado no âmbito de uma estratégia de observação. A rotação deste ciclo aumenta a conformidade do modelo e a qualidade das observações, e, assim, a compreensão do mundo que nos rodeia. Na verdade, em vez de simplesmente descrever todos os recursos geológicos e geofísicos por um simples processo de catalogação ou "colecção de selos", os modelos e simulações revelam os mecanismos globais. " A observação dos detalhes pode ser interessante e fascinante, mas nós apreendemos a partir das generalidades " , P. Bak em 1996).
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Atlelier de Interpretação das Linhas Sísmicas
por
C. Cramez
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Ultima modificação :
Fevereiro, 2015