A ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira ou ruptura costeira ao corresponde nível de erosão das ondas mais baixo quando o mar está calmo, ou seja, mais ou menos, 10-20 metros abaixo do nível do mar. A ruptura costeira pode corresponder ou não à ruptura ou bordo da plataforma continental (limite entre a plataforma e o talude continental superior). Durante a parte final de uma regressão, a ruptura costeira e a ruptura da plataforma são coincidentes, uma vez que a bacia não tem, mais plataforma (certos geocientistas falam da ruptura ou rebordo continental). Mais tarde, quando a transgressão seguinte ocorre, a ruptura costeira migra para o continente, o que cria o início de uma plataforma continental. A retrogradação da ruptura costeira aumenta a profundidade da água e a extensão da plataforma, o que cria, ao mesmo tempo, condições de pobreza ou privação de sedimentos na área distal, perto da ruptura da plataforma, a qual permanece, mais ou menos, no mesmo lugar.
O deslocamento da ruptura de deposição costeira é claramente ilustrada pelos pontos vermelhos. As descidas relativas do nível do mar criam deslocamentos para o largo e para baixo da ruptura costeira, os quais enfatizam as discordâncias que limitam os ciclos-sequência. Neste modelo, existem dois deslocamentos da ruptura costeira: (i) entre as linhas cronoestratigráficas 5 e 6, e entre as linhas 21 e 22. Uma regressão (deslocamento em direcção ao mar da linha da costa) ou uma transgressão (deslocamento da linha de costa em direcção do continente) são, principalmente, dependentes do acarreio sedimentar. Geralmente, quando o acarreio sedimentar é importante, há um deslocamento dos depósitos costeiros para o mar (geometria progradante). Em casos particulares, o acarreio sedimentar pode equilibrar a subida relativa do nível do mar (criação de espaço disponível para os sedimentos) e assim a linha da costa não é deslocada (linha da costa estacionária). Quando o acarreio sedimentar é fraco, a linha da costa e os depósitos costeiros são deslocados em direcção do continente (geometria retrogradante). Tudo isto quer dizer, que com a mesma subida relativa do nível do mar, num determinado lugar, pode haver uma regressão e noutro uma transgressão função do acarreio sedimentar, como mostrado antes.
Nesta linha sísmica do offshore de Kalimantan (Indonésia), entre 3 e 5 segundos, a ruptura da inclinação da superfície de deposição costeira e a ruptura da plataforma são, mais ou menos, coincidentes. Esse intervalo sedimentar é, principalmente, regressivo. Ele tem uma uma geometria, globalmente. progradante. A progradação da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira não é contínua. Três deslocamentos para o mar e para baixo da ruptura da plataforma induzidas por descidas relativas do nível do mar são facilmente reconhecidas. Elas caracterizam três discordâncias. Estas discordâncias são induzidas, principalmente, pelo eustatismo, uma vez que a geometria da planície costeira é horizontal. Por outro lado, entre cada discordância, a ruptura costeira (ou à ruptura da plataforma) exibe deslocamentos progradantes (em azul) e retrogradantes (em verde).
A montante da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira, toda acomodação, ou seja, todo o espaço disponível para os sedimentos é preenchido. Uma subida relativa do nível do mar de 15 metros, por exemplo, aumenta a acomodação de 15 m e 15 metros de sedimentos serão depositados a montante da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira.
A jusante da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira, o espaço disponível é, parcialmente, preenchido ou mesmo não preenchido. Uma subida relativa do nível do mar de 20 metros, por exemplo, aumenta a acomodação de 20 metros. Contudo, se 5 metros de sedimentos se depositaram, unicamente, a jusante da ruptura, a profundidade de água aumentará de 15 metros. A jusante da ruptura, a acomodação é igual à espessura de sedimentos depositados mais a profundidade da água.
Da mesma maneira, a jusante da ruptura da plataforma, a acomodação é, suficientemente grande para permitir a sedimentação sem nenhuma subida relativa do nível do mar, o que quer dizer, que sedimentação pode ocorrer mesmo durante uma descida do nível do mar (ex: turbiditos).
O reconhecimento dos deslocamentos para o largo e para baixo da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira, é um passo importante para a identificação das discordâncias. Isto é, particularmente, verdadeiro nas tentativas de interpretação geológica das linhas sísmica. Na realidade, nas linhas sísmicas, a montante da ruptura da plataforma e na planície abissal, a geometria horizontal dos reflectores não é favorável a uma boa e fácil identificação das discordâncias. Na prática, as discordâncias são reconhecidas nas proximidades da ruptura da plataforma, pelos deslocamentos dos biséis de agradação para baixo e para o largo, e depois extrapoladas para montante e para o largo.
Tendo em conta que a montante da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira, que, como dito antes, pode coincidir com a ruptura da plataforma (quando a bacia não tem plataforma, ou seja, em condições de baixo nível do mar), toda a acomodação é preenchida por sedimentos, e a profundidade da água deposição é zero. A jusante da ruptura costeira, a profundidade de água de deposição ao longo das linhas cronoestratigráficas pode ser calculada utilizando a geometria da planície costeira como referência.
Como ilustrado neste esquema, ao longo duma linha cronoestratigráfica, a ruptura proximal da inclinação da superfície de deposição sublinha a ruptura de deposição costeira enquanto que a ruptura distal sublinha a base do talude continental. Quando a ruptura costeira coincide com a ruptura da plataforma, isto é, quando a bacia não tem plataforma continental, o que acontece durante a maior parte do tempo na fase regressiva do ciclo de invasão continental, a profundidade da água é zero. Tomando a planície costeira como linha referência, é possível calcular a paleo-profundidade, em tempo ou em profundidade (se a velocidade de intervalo for conhecida), a jusante da ruptura da continental (ruptura costeira = à ruptura da plataforma) como ilustrado nesta figura. Para isso basta deslocar para baixo, de uma quantidade tempo ou metros, a linha de profundidade de água zero, que une as sucessivas rupturas costeiras.
Neste exemplo, a paleo-profundidade de água de deposição vertente a baixo do talude continental pode ser calculada (em tempo, i.e., em tempo duplo), uma vez que a ruptura costeira de deposição, a qual, neste caso particular, coincide com a ruptura da plataforma, visto que a bacia nessa altura não tinha plataforma continental, é facilmente reconhecido. Duas paleo-profundidade de água de 0,2 e 0,4 segundos (t.w.t.) são, a título de exemplo, tentativamente, calculadas.
A acomodação é o espaço disponível para os sedimentos. As variações da acomodação sedimentar reflectem o espaço disponível para a acumulação de sedimentos através duma combinação da subsidência e duma subida ou descida relativa do nível do mar. Se espaço disponível é, inteiramente, preenchido, ou não, depende da taxa do acarreio sedimentar, que chega à bacia, e da posição do ponto considerado em relação à ruptura costeira. A chave para uma boa tentativa de interpretação sequencial dos dados sísmicos ou das diagrafia eléctricas, por exemplo, reside na aplicação do conceito de acomodação na interpretação dos ambientes de deposição.
Esta figura mostra que o espaço disponível para os sedimentos (acomodação) é completamente preenchido (se o acarreio sedimentar for suficiente) a montante da ruptura de inclinação da superfície de deposição costeira que, aqui, coincide com a ruptura da plataforma. Contudo, a jusante da ruptura da plataforma, o novo espaço criado é igual à altura do enchimento sedimentar (novos sedimentos depositados) mais a profundidade da água.
Para identificar as variações da acomodação sedimentar várias etapas são recomendadas :
1) Localização de acunhamento das argilas marinhas.
- Numa secção estratigráfica siliciclástica (areia-argila), esta cunha ocorre, geralmente, na plataforma continental, onde ela é coberta e cobre sedimentos mais grosseiros e se prolonga, lateralmente (encosta), para o talude continental e planície abissal.
- Numa secção estratigráfica carbonatada, o acunhamento das argilas, margas e lamas calcárias é, normalmente, coberto por carbonatos clásticos grosseiros ou por evaporitos e é sobrejacente a carbonatos transgressivos.
2) Localização, nos sedimentos depositados na plataforma (na base da cunha das argilas marinhas), dos padrões estrato e granodecrescentes para cima.
- Em siliciclásticos, estes padrões, muitas vezes, formam registos em forma de sino e reflectem a retrogradação de sucessivos paraciclos (do ciclo-sequência), uma vez que uma rápida subida relativa do nível do mar força a linha da costa a deslocar-se para o continente através da plataforma.
- Em carbonatos, estes padrões podem ser menos visível nas diagrafias eléctricas e os estudos de testemunhos de sondagem podem ser necessários para reconhecer o padrão granodecrescente para cima, assim como, o aumento da profundidade da água de deposição.3) Localização, nos sedimentos depositados na plataforma (sobre a cunha das argilas marinhas), dos padrões grano e estratocrescentes para cima.
- Em siliciclásticos, muitas vezes, eles formam uma geometria de funil no topo da cunha argila, representando a progradação progressiva das areias da frente do delta, seguida de secções argilo-arenosas deltaicas e fluviais que representam uma diminuição das condições marinhas.
- Padrões batidecrescentes para cima pode ser observados nos carbonados, estudando os detritos e testemunhos de sondagem com o auxílio biostratigrafia.
A linha de baía é a linha de demarcação entre as áreas caracterizadas por uma acomodação subaéria e uma acomodação marinha, ou seja, entre os sedimentos da planície aluvial e da planície costeira ou, em outros termos, entre os sedimentos fluviais e marinhos, uma vez que os sedimentos da planície costeira são considerados como depósitos marinhos.
Como ilustrado neste esquema, em condições de alto nível do mar (nível do mar acima do rebordo da bacia), uma linha de baía (limite entre os depósitos fluviais e não fluviais) pode ser considerada para cada linha cronoestratigráfica.
A montante da linha de baía, a taxa da descida relativa do nível do mar é maior do que a taxa da subsidência. Ao contrário a jusante, a taxa da descida relativa do nível do mar (eustasia + subsidência) é menor do que a taxa da subsidência. É importante notar que na tentativa de interpretação geológica da linha sísmica, os paraciclos, que formam o cortejo transgressivo, têm uma configuração interna progradante. Isto quer dizer, que uma transgressão é uma sucessão de regressões cada vez menos importantes, o que confere ao cortejo transgressivo uma geometria globalmente retrogradante.
Nesta linha sísmica do Mar do Norte, dentro do intervalo progradante da bacia cratónica, em cada linha cronoestratigráfica é possível reconhecer as diferentes rupturas da inclinação. As rupturas associadas as linhas de baía, assim como as rupturas costeiras (a bacia parece não ter plataforma continental, o que quer dizer que a ruptura costeira coincide com a ruptura continental) e, mesmo as rupturas da base do talude continental (que não é muito espesso) são bem visíveis. Note a morfologia da base dos sedimentos cratónicos, que sublinha uma actividade tectónica tardia das bacias de tipo-rifte subjacentes.
Os sinais eustáticos podem ser reconhecidos como eventos globais. A amplitude dos acontecimentos não pode ser bem determinada. Contudo, assumindo um comportamento eustático do nível do mar, o comportamento tectónico pode ser predito, ou vice-versa.
Secção geológica utilizada para testar a importância das variações relativas da curva do nível do mar e do sinal tectónico (ver figura seguinte).
À esquerda, uma simulação evitando o sinal tectónico (subsidência). Unicamente as alterações no nível do mar foram utilizadas para a sedimentação. À direita, uma simulação evitando as variações do nível do mar, apenas o sinal tectónica (subsidência) foi utilizado para a sedimentação. O resultado é muito semelhante ao obtido na simulação ilustrada à esquerda.
As variações do nível do mar são apenas uma parte da acomodação para o preenchimento sedimentar, o qual depende, também, da tectónica residual. A amplitude exibida pelos eventos do nível do mar de Haq e outros, (1987) são, sem dúvida, dependente do modelo utilizado, e podem ser muito ou parcialmente errada.
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Ultima modificação :
Fevereiro, 2015