1) Canhões
Os canhões submarinos (com uma lâmina de água importante) produzem, nas linhas sísmicas, variações laterais importantes da velocidade de intervalo, uma vez que as ondas sísmicas viajam mais rapidamente nos sedimentos do que na água. Como consequência, numa linha sísmica (em tempo), os horizontes sísmicos debaixo dum canhão submarino são puxados para baixo, visto que as ondas sísmicas gastam mais tempo a atravessar a água do que os sedimentos. Os geocientistas encarregados das tentativas de interpretação geológica das linhas sísmicas devem ter em conta estas armadilhas.
No detalhe duma linha sísmica do offshore norte de Angola (em cima à esquerda), o canhão submarino do Rio Congo, se reconhece, imediatamente, pela aumentação e diminuição abrupta da profundidade de água, que, regionalmente, aumenta, gradualmente para Oeste. O termo canhão submarino é, aqui, utilizado como sinónimo de desfiladeiro submarino, isto é, o vale alcantilado localizado no fundo do mar de um talude continental e não para designar o preenchimento de um canhão submarino, como é considerado, muitas vezes, por certos geocientistas das companhias petrolíferos. Nas linhas sísmicas, teoricamente, uma tal variação de profundidade de água vai, naturalmente, puxar para baixo ("pull down" em inglês) todos os horizontes que estão debaixo da base do canhão. Contudo, como se pode constatar na tentativa de interpretação geológica (o intervalo em violeta corresponde aos evaporitos), o puxão para baixo dos horizontes debaixo do canhão submarino não é muito evidente. Na realidade, ao puxão para baixo induzido pela profundidade de água do desfiladeiro submarino deve ainda adicionar-se o puxão para baixo induzido pelo preenchimento sedimentar do antigo canhão do Congo (bem marcado na tentativa de interpretação), uma vez que os sedimentos que preenchem o antigo canhão (coloridos em castanho na tentativa) são menos compactados que os sedimentos erodidos pelo canhão. Assim, a questão principal é de saber porque é que o puxão para baixo não se vê na linha sísmica. A tentativa de interpretação em profundidade desta linha sísmica, proposta na parte inferior da figura (o sal corresponde ao intervalo preto), sugere fortemente, que antes da formação do canhão submarino, localmente, os sedimentos foram encurtados, ou seja, levantados, o que, praticamente, anula o puxão para baixo induzido. Este levantamento local é, muito provavelmente, associado com a reactivação tardia da falha de bordadura duma bacia de tipo-rifte dentro da crusta continental (cruzes brancas sobre fundo vermelho). A bacia de tipo-rifte não visível na tentativa de interpretação uma vez que unicamente os sedimentos posteriores a ruptura do Gondwana foram tomados em linha de conta na interpretação.
Utilizando, mais ou menos, o detalhe da linha sísmica da figura anterior, três tentativas de interpretação geológica dos sedimentos da margem divergente são propostas (a crusta continental, em vermelho com cruzes brancas, pode conter bacias de tipo-rifte). A grande diferença entre as tentativas propostas reside, basicamente, no modelo adoptado para explicar a formação do canhão submarino. A hipótese de um canhão criado, unicamente, por erosão duma corrente não controlada pela tectónica e com um preenchimento muito espesso, é de longe a mais refutável pelas conversões em profundidade. As outras duas hipóteses, nas quais a tectónica tem um papel muito importante na criação e desenvolvimento do canhão são mais prováveis, ou seja, menos refutáveis. As conversões em profundidade das três tentativas de interpretação são, relativamente, similares, excepto na amplitude do levantamento dos sedimentos debaixo do canhão. Na conversão em profundidade da primeira tentativa de interpretação, o levantamento da crusta continental e dos sedimentos da margem é muito exagerado (± 800 metros). Isto quer dizer que a espessura do antigo canhão do Congo é mais pequena do que a considera pelo geocientista encarregado da interpretação.
2) Canhões e Falhas Inversas
Como ilustrado na carta de localização (offshore da Indonésia), as linhas sísmicas, tentativamente interpretadas nesta figura, são perpendiculares. Tal orientação, muitas vezes, evita erros de interpretação, uma vez que interpretação geológica de uma das linhas é um teste de falsificação da outra e vice-versa (falsificação no sentido de K. Popper). Na linha sísmica A, orientada SO-NE, a qual é longitudinal às estruturas tectónicas da região, é fácil pontear uma discordância, reforçada pela tectónica (SB. 5.5 Ma, em vermelho). Esta discordância é caracterizada pela presença de biséis de agradação por cima dela e biséis somitais de truncatura debaixo. Esta discordância não é outra coisa que a superfície de erosão resultante do levantamento dos sedimentos que foram encurtados por dobras e falhas inversas, uma vez que uma parte deles foi exposta aos agentes erosivos. De facto, os sedimentos foram erodidos, profundamente, uma vez que um canhão submarino se formou, o qual, mais tarde, foi preenchido, provavelmente, pelos sedimentos superiores do cortejos de baixo nível (em amarelo) do ciclo-sequência seguinte, cujo limite inferior é a discordância. Os sedimentos pré-discordância foram, localmente, encurtados por uma falha inversa, que é, mais ou menos, evidente. Como a falha inversa foi cortada, longitudinalmente, pela linha sísmica, o plano de falha é côncavo para cima com o bloco falhado superior ocupando a concavidade. O bloco falhado superior (tecto da falha) está, evidentemente (Teoria precede a Observação), muito mais deformado do que o muro da falha (bloco inferior). A tentativa de interpretação da linha sísmica B, orientada NO-SE, ou seja perpendicularmente à linha A, corrobora totalmente a tentativa de interpretação da linha A. Efectivamente : (i) A discordância SB. 5.5 Ma (datada pelos poços de pesquisa próximos) é bem marcada pelos biséis de progradação dos sedimentos pós-discordância que preenchem o antigo e pelos biséis somitais (de truncatura) dos sedimentos inferiores ; (ii) Os sedimentos do bloco superior estão muito mais encurtado do que os do bloco inferior ; (iii) A superfície de erosão (SB. 5.5 Ma) trunca, significativamente, (± 500 milisegundos t.w.t.) os sedimentos pré-discordância formando um canhão submarino ; (iv) Depois de um hiato, mais ou menos importante, durante o qual se depositaram, na parte profunda da bacia (sudeste desta linha), os cones submarinos da bacia, cones submarinos de talude e a parte inferior do prisma de baixo nível. O canhão submarino foi preenchido pelos sedimentos superiores do prisma de baixo nível, os quais foram fossilizados quer pelos sedimentos superiores do prisma de baixo nível que pela agradação do cortejo transgressivo.
3) Falhamento, Evacuação do Sal, Inversão Tectónica.
A versão migrada em profundidade de uma antiga linha 2D do offshore do Kwanza (bloco 6), permite tentativas de interpretação que têm pouco a ver com as interpretações propostas, nos anos 80, para localizar o poço de Cegonha -1. Na realidade, a qualidade da linha sísmica reprocessada ilustrada acima permite, não só de constatar que em todas as tentativas de interpretação dos dados antigos, os interpretadores punham sempre sal a mais (lembramos que o poço de Cegonha-1 devia reconhecer as terminações dos reflectores contra um domo salífero com paredes verticais), mas igualmente de corroborar certos modelos geológicos da halocinese, em particular, os avançados para explicar as estruturas de evacuação e inversão induzidos pelos movimentos do sal. O modelo geológico proposto acima é muito interessante. Ele explica não só como é que se formam suturas salíferas primárias e secundárias, mas, e sobretudo, como é que num regime tectónico extensivo (sigma 1 vertical) se podem formar falhas normais com a geometria de falhas inversas, quando existe um intervalo evaporítico móvel na coluna sedimentar. De facto, a partir do esquema da esquerda, no qual uma falha normal curvilínea tem um diapiro de sal na base do bloco inferior (muro da falha), uma evacuação parcial do sal cria uma pequena sutura salífera ao mesmo tempo que a cobertura salífera se move para baixo produzindo um deslize inverso (geometria de falha inversa) e uma sutura salífera secundária. Finalmente, uma evacuação praticamente total do sal do bloco inferior aumenta, consideravelmente, o deslize inverso e a extensão das suturas salíferas.
4) Idade do Falhamento em Bacias Salíferas
Nesta tentativa de interpretação duma linha sísmica do Sul do Mar do Norte, várias questões se põem aos geocientistas : (i) São os depocentros salíferos bacias de tipo-rifte ? (ii) Qual é a idade das falhas ? (iii) São as falhas, normais (alongamento) ou inversas (encurtamento)? (iii) Como se explicam as variações de espessura dos intervalos verdes do Cretácico Superior ? A extensão é anterior ou posterior ao depósito do sal ? Tendo em conta que o encurtamento dos sedimentos é muito tardio (sem grande interesse petrolífero), de todas estas questões a mais importante, que, em parte, explica as outras, é de saber se o alongamento dos sedimentos se fez antes ou depois do depósito do sal. Estas duas hipóteses devem ser bem testadas (ou seja criticadas), uma vez que elas têm consequências petrolíferas muito diferentes. Sabendo que na bacia, onde esta linha sísmica foi tirada, a migração dos hidrocarbonetos se fez durante o Cretácico Tardio (durante o depósito dos intervalos verdes superiores), os geocientistas devem pôr em evidência armadilhas pré-Cretácicas para ter uma pequena probabilidade de descobrir uma acumulação de hidrocarbonetos. Utilizando esta linha sísmica, os geocientistas tem que determinar a idade das falhas, visto que as armadilhas infrasalíferas, mais prováveis, não são estruturais, mais sim morfológicas por justaposição.
En cima, uma tentativa de interpretação geológica duma versão migrada em profundidade da linha sísmica ilustrada na figura anterior, na qual o geocientista tem que decidir se as armadilhas morfológicas por justaposição têm ou não interesse petrolífero. Como dito previamente duas hipóteses geológicas são possíveis. Na hipótese 1 há extensão (alongamento) antes ou durante a deposição do sal. O sal preenche um graben criado por extensão das camadas infrasalíferas. Depois há compressão e fluência do sal. A cobertura salífera (sedimentos suprasalíferos) é encurtada. A cobertura salífera é, localmente, alongada por halocinese. As falhas são anteriores ao depósito do sal e as armadilhas potenciais para hidrocarbonetos são anteriores ao tempo de migração HC, o que quer dizer. que elas podem armadilhar hidrocarbonetos (armadilhas potenciais). Elas são favoráveis à pesquisa de hidrocarbonetos. Na hipótese B, não há extensão antes da deposição de sal. Extensão ocorre após a deposição do sal. Mais tarde, a cobertura e a infra-estrutura são encurtados. Esta hipótese pode resumir-se assim : (i) Não há nenhuma extensão antes da deposição de sal ; (ii) O sal é depositado numa camada estratigráfica, mais ou menos, horizontal e contínua ; (iii) Acima do sal, depositam-se intervalos sedimentares isópacos (camadas pré-cinemáticas) ; (iv) Uma extensão regional ocorreu e reactivou como falhas normais, as falhas pré-existentes e as zonas de fractura dos estratos infrasalíferos ; (v) O sal fluiu lateralmente e para baixo preenchendo o espaço criado pelo alongamento ; (vi) O escoamento do sal induziu na cobertura salífera (acima das camadas pré-cinemáticas) um depocentro bem como uma desarmonia tectónica e uma sutura salífera ; (vii) Um regime tectónico compressivo regional ocorreu e encurtou a cobertura salífera ; (viii) A compressão, localmente, reactivou a camada de sal iniciando uma fase halocinética. Mais concisamente : (A) As falhas são posteriores à deposição de sal ; (B) As falhas são posteriores a camada pré-cinemática ; (C) As armadilhas morfológicas por justaposição (infrassalíferas) são posteriores à migração dos hidrocarbonetos de não têm nenhum potencial petrolífero.
Este modelo geológico sugere que uma extensão pós-salífera ajusta-se melhor aos dados observados nas linhas sísmicas precedentes. As ondulações da cobertura (conjunto dos intervalos suprasalíferos) estão associadas com uma compressão (encurtamento) tardia. O depocentro sobrejacente as camadas isópacas (pré-cinemáticas) data o escoamento lateral e para baixo do sal e as suturas salíferas. Por outro lado, ele permite de subdividir a cobertura salífera em pré-cinemática e pós-cinemática. A geometria dos grabens é semelhantes à observada nos dados sísmicos. O diapiro de sal, formado na área da cobertura pé-falhada ajusta-se bem às estruturas salíferas encontradas nas linhas sísmicas da região.
5) Autossimilaridade dos Registos Geológicos
Os registos geológicos e sísmicos são invariáveis com a escala, o que quer dizer, que as tentativas de interpretação das linhas sísmicas são dependentes da escala. A escala natural é 1: 1. As relações geométricas originais são, muitas vezes, deformadas.
Nenhum geocientista pode, tentativamente, interpretar, em termos, geológicos, linhas sísmicas sem escalas (vertical e horizontal) e, muito dificilmente, sem a sua localização. Antigamente, ou seja, no meu tempo, a maioria dos chefes de pesquisa (ingénuos ou inductivistas) das companhias petrolíferas, por razões de confidencialidade, diziam eles, escondiam ou safavam a localização das linhas sísmicas antes de as darem aos interpretadores. A consequência de tal acto, além de mostrar a incompetência do chefe de pesquiza, é que desconhecendo o contexto geológico, o interpretador não sabia o que devia observar e era obrigado, a fazer interpretações ingénuas e indutivas sem nenhum interesse científico. Felizmente que hoje em dia já não é a mesma coisa (na maioria das companhias). Por exemplo, se o geocientista em carga da interpretação geológica das linhas sísmicas sabe que elas foram tiradas no offshore de Angola, ele sabe que, debaixo para cima, deve reconhecer (a Teoria precede a Observação, K. Popper, 1934) : (i) A discordância pré-rifting que limita superiormente um embasamento, que pode ser constituído por rochas graníticas, sedimentos precâmbricos, cintura dobrada paleozóica ou vulcanismo (pré-ruptura) ; (ii) As bacias de tipo rifte que se desenvolveram na crosta continental da Pangeia (Gondwana) durante o alongamento desta e antes da ruptura da litosfera ; (iii) A discordância da ruptura que marca o fim do alongamento da litosfera (bacias de tipo-rifte) e o início da acreção lateral vulcânica (subaéria) das placas individualizadas ; (iv) Os sedimentos infrassalíferos da margem continental que, localmente, podem formar importantes depocentros (lacustres ou de mar pouco profundo), sobre os quais se depositou um espesso nível de sal ; (v) A desarmonia tectónica induzida pelo sal, que corresponde, mais ou menos, à base do sal ; (vi) A fase transgressiva (retrogradante) do ciclo estratigráfico de invasão continental pós-Pangeia ; (vii) A superfície de base das progradações principais (SBP. 915. Ma), que limita superiormente a fase transgressiva ; (viii) A fase regressiva (progradante) do ciclo estratigráfico de invasão continental pós-Pangeia dentro da qual ele deve reconhecer a discordância oligocénica (SB. 30 Ma), induzida pela formação da calote glaciária do antárctico. Sem as escalas uma linha sísmica não se pode interpretar de maneira científica, uma vez que nenhuma hipótese avançada pelo interpretador pode ser testada (falsificada). Por exemplo, na linha sísmica A, ilustrada acima, se o interpretador disser que os reflectores inclinados para a direita correspondem a taludes deltaicos, ele não está a fazer uma afirmação científica, mas sim metafísica, uma vez que ela não se pode falsificar (é como dizer que todos os solteiros não são casados, ou que amanhã faz sol ou não depende do tempo). O mesmo sucede com as outras linhas. Considerando a linha sísmica (e), que foi mostrada a vários geocientistas fazendo a mesma pergunta : a que correspondem os reflectores inclinados para a direita ? Nenhum disse que a pergunta era estúpida. Todos responderam coisas diferentes. Contudo, quando se disse que a escala vertical era em nanosegundos (10^-9 segundo) e que a equidistância vertical (tempo entre cada linha horizontal) era de 50 nanosegundos, todos responderam correctamente : são estratificações oblíquas de um nível de areia cuja espessura é entre 10 e 15 metros. Na realidade a linha (e) é uma linha géoradar, feita por um aparelho geofísico que utiliza o princípio dum radar, utilizando uma banda de microondas e ondas rádio VHF/UHF), e que o apontando para o sol, permite estudar a sua composição.
Estas linhas sísmicas mostram a diferença entre um talude continental e um talude deltaico. As progradações dum talude continental têm uma altura (diferença entre entre o bisel superior e o bisel de progradação) superior a 200 metros, enquanto que num talude deltaico, ela atinge raramente 100 metros. No meu tempo, quando um geocientista falava de progradações deltaicas nas linhas sísmicas antigas, ele estava, certamente, a tomar um talude continental como um talude deltaico. Na realidade, como veremos a seguir, a espessura de um delta raramente ultrapassa 50-60 metros, isto é, mais ou menos, o limite da resolução sísmicas das linhas convencionais. Como ilustrado na linha sísmica do offshore da Austrália, muitas vezes, na base das progradações do talude continental encontram-se turbiditos em telhado em telha ("shingled turbidites" em inglês), os quais não devem ser confundidos com os turbiditos proximais, depositados na base do talude deltaico, como os ilustrados na linha sísmica do offshore da China. Nesta linha sísmica (e), a primeira coisa a observar é a escala vertical, que em relação à escala das outras linhas é muito menos exagerada. Em segundo lugar determinar a altura das progradações, a qual não ultrapassa 100 milisegundos (tempo duplo), o que significa que, muito provavelmente, as progradações correspondem a taludes deltaicos e que as anomalias sedimentares na base das progradações são turbiditos proximais.
6) Deltas (lato sensu)
Nesta figura estão resumidas as características dum delta fan, delta entrelaçado e delta comum. Os dois primeiros são constituídos por material grosseiro, enquanto que o delta comum é constituído por material fino. A morfologia dos distributivos é, mais ou menos, rectilínea num delta comum, enquanto que nos deltas entrançados e deltas fan ela é entrançada. A carga, assim como a granulometria, é grande nos delta fans, média nos deltas entrançados e pequena nos deltas comuns. A distância entre a linha da costa e a nascente do rio, associado, é curta nos deltas fan, média nos deltas entrançados e grande nos deltas comuns. A velocidade de escoamento e o gradiente são grandes nos deltas fan, médios nos deltas entrançados e baixos nos deltas comuns. A espessura de todos estes deltas, raramente, ultrapassa 50-60 metros, o que permite de diferenciar as progradações deltaicas das associadas ao talude continental, salvo se o geocientista não sabe diferenciar um delta de um edifício deltaico, o que está ilustrado na figura seguinte.
7) Talude Continental e Talude Deltaico
Esta figura ilustra, perfeitamente, a diferença entre um delta e um edifício deltaico. Quantas vezes se ouve da boa de certos geocientistas : o delta do Níger e do Mississipi têm mais 4000 metros de espessura. Dizer isto, é como dizer que o andar ou o apartamento onde eu habito tem 50 metros de altura. Toda a gente sabe que os apartamentos modernos têm, em média menos de 3 metros de altura, e que um prédio ou edifício pode ter vários andares. Um andar é uma coisa um edifício (prédio) é outra. Na geologia é a mesma coisa, um delta, ou seja, um paraciclo estratigráfico ou cortejo sedimentar, induzido por um paraciclo eustático, constituído por um três sistemas de deposição síncronos e geneticamente ligados : (i) Planície deltaica ; (ii) Frente do delta e (iii) Prodelta, tem em média menos de 100 metros de altura. Assim, o Delta do Níger tem uma espessura de ± 115 metros, o Delta do Ródano de ± 106 metros, o Delta do Reno de ± 61 metros e o Delta do Mississipi de ±36 metros. Contudo, como ilustrado acima, os deltas sobrepõem-se, uns aos outros, formando espessos edifícios deltaicos, sobretudo, nos intervalos sedimentares progradantes (prisma de baixo nível do mar e prisma de alto nível do mar). É por isso que, muitas vezes, quando a bacia não tem mais plataforma continental (ruptura costeira da inclinação da superfície de deposição coincidente com a ruptura continental), que um talude deltaico forma a parte superior do talude continental.
8) Progradações Deltaicas
Nesta figura estão ilustradas progradações deltaicas (observe com atenção a escala vertical das linhas sísmicas). Dois tipos de progradações : (i) Progradações sigmoidais e (ii) Progradações em telha. Elas são facilmente reconhecidos. As progradações sigmoidais enfatizam os prodeltas (talude deltaicos), enquanto que as progradações em telhas enfatizam as ilhas-barreia, bancos de areia, arenitos de praia e cordões litorais dos deltas formados sob a influência das vagas. O campo petrolífero de East Texas está associado a este tipo de progradações em telha (Woodbine Delta). É o maior campo do Este do Texas. Cobre mais de 500 km^2 e mais de 30000 poços foram perfurados É o segundo maior campo petrolífero dos Estados Unidos (Alasca não incluído) e o primeiro em volume de petróleo recuperado desde 1930 (ano da sua descoberta). Mais de 5 Gb foram produzidos até hoje (2012).
Nesta figura estão ilustrados exemplos de prodeltas (taludes deltaicos) de deltas entrançados e delta fans (tipo Gibert), os quais que são caracterizados por : (i) Um fluxo, essencialmente homopicnal de cursos de água de montanha com forte gradiente, directamente em águas profundas dum lago ou do oceano ; (ii) Ocasionais fluxos turbidíticos hiperpicnais (escoamentos de lama) ; (iii) Cascalho grosso é dominante nas camas progradantes ; (iv) Areias finas e siltes nas camadas basais, progradam, localmente, nos lagos com um nível de água descente. Na linha sísmica do sul das Maldivas (Maluinas ou ilhas de Falkland), os taludes observados são considerados, tentativamente, com taludes de deltas entrançados com uma acreção lateral importante. Na tentativa de interpretação da linha sísmica do onshore de Sumatra, os taludes (intervalo amarelo), correspondem, provavelmente, a deltas-fan do tipo-Gilbert, que se desenvolveram por cima duma bacia de tipo-rifte (fase de alongamento duma bacia interna ao arco), ou seja, na base da fase de abatimento junto à bordadura dum paleoalto do embasamento. Lateralmente, o edifício deltaico passa a argilas marinhas transgressivas que, com o tempo, o fossilizam completamente. Neste caso, assim como nos exemplos ilustrados na parte inferior desta figura (linha do Mar do Norte à esquerda e do offshore da China à direita), a falha normal que borda a bacia de tipo-rifte (geralmente com uma geometria de hemigraben) parece ter continuado a jogar durante a fase de abatimento (pelo menos, ao começo), que mais tarde, a quando dum regime tectónico compressivo, foi reactivada como falha inversa. Esta reactivação, que não existe na linha sísmica das Malvinas (margem continental tipo-Atlântica), é perfeitamente normal nas bacias interna ao arco, uma vez que estas estão localizadas dentro da megasutura meso-cenozóica. Na tentativa de interpretação geológica da linha sísmica do offshore de China (esquema em baixo à direita), o alongamento (extensão) dos sedimentos da fase de riftização (bacia de tipo-rifte, subsidência diferencial) é sublinhado pela formação de uma estrutura antiforma. Mais tarde, a estrutura antiforme (são os flancos que se desceram e não o ápice que se levantou) foi fossilizada pelos biséis de agradação dos sedimentos da fase de abatimento (subsidência térmica) que, posteriormente, devido a levantamento tardio (encurtamento), se transformaram em falsos biséis de progradação.
Obviamente, os taludes visíveis nestas linhas sísmicas não podem ser interpretados com taludes deltaicos. A escala vertical da linha de cima, em nanosegundos, refuta a hipótese dum talude deltaico e corrobora a hipótese duma estratificação obliqua. Com efeito, a espessura do intervalo progradante não ultrapassa 10-15 metros. Por outro lado, um delta é um paraciclo estratigráfico (cortejo sedimentar) constituído por três sistemas de deposição (planície deltaica, frente do delta e prodelta) coevos e geneticamente ligados, o que quer dizer, que não pode haver um delta representado unicamente por um sistema de deposição (tendo em linha de conta, evidentemente a resolução sísmica), neste caso o prodelta. Na linha sísmica inferior, as relações geométricas entre os reflectores e as escalas (vertical e horizontal), sugerem fortemente o modelo geológico que melhor as explica é o de um meandro fossilizado. Por As progradantes inclinadas para Este correspondem à barra de meandro, enquanto que as progradações, menos marcadas, que inclinam para Oeste correspondem a tampões argilosos, que se depositaram durante os períodos de abandono do canal fluvial principal.
9) Exageração Vertical
A título de exemplo, consideraremos o efeito da exageração da escala vertical na espessura estratigráfica e inclinação das camadas de uma espessura unitária dum anticlinal (Sitter, 1974).
Assumindo uma camada sedimentar com espessura constante e deformada em anticlinal, de tal maneira que a distância entre os flancos seja metade da altura, ela pode ser representada, à escala natural ou escala do campo (1:1), por dois semicírculos equidistantes, como ilustrado assim. Se exageramos a escala vertical dum factor 3, a espessura aparecerá como não constante, uma vez que a zona apical aparecerá muito mais espessa que os flancos. Quanto maior for a exageração vertical maior será a diferença de espessura entre a zona do ápice das estruturas e os flancos. Na interpretação geológica das linhas sísmicas, esta armadilha de representação deve estar, sempre, presente na mente dos interpretadores, uma vez que todas as linhas sísmicas convencionais são exageradas verticalmente de um factor que pode varia entre 3 e 5 (tendo em conta que a escala vertical é em tempo). Tudo isto quer dizer que aquilo que interpretador retém no cérebro (não se observa com os olhos mas com o cérebro ; os olhos são unicamente um órgão que levar as ondas luminosas ao cérebro) quando observa as linhas sísmicas aqui ilustradas (versão não-migrada e migrada da mesma linha sísmica) é não só em tempo, mas também exagerada verticalmente, o que não tem nada a ver com a realidade (ver figura seguinte).
A imagem retida no cérebro dum interpretador, quando ele observa uma linha sísmica migrada em profundidade, e à escala 1:1, aproxima-se muito mais da realidade do que, como previamente, quando ele observa uma linha sísmica migrada em tempo. Contudo, é importante que ele não confunda "Ser" e "Representação do Ser", quer isto dizer, que quando um geocientista observa uma linha sísmica e diz, isto aqui, são cones submarinos de talude, ele não está a observar cones submarinos de talude ("Ser"), mas uma representação de cones submarinos de talude (Representação do Ser). Por outro lado, uma conversão em profundidade só pode ser bem feita à posteriori, isto é, quando as velocidades de intervalo são conhecidas o que acontecer, quase sempre, depois da perfuração dum poço não muito longe da linha sísmica.
10) Relações Geométricas e Discordâncias
As relações geométricas são significativas no momento de deposição. O hiato associado a uma discordância representa simplesmente o prolongamento dos períodos de exposição subaéria com um mínimo de erosão, possivelmente, com a formação local de um vale ou de canal encaixado, que representa o período de levantamento e erosão subaéria significativa das camadas mais antigas ou uma erosão submarina induzida por correntes turbidíticas ou deslizamentos submarinos.
Na tentativa de interpretação geológica da linha sísmica estão marcadas a maior parte das terminações dos reflectores. Elas definem, principalmente, biséis de agradação, biséis de progradação e biséis somitais por truncatura. Os biséis somitais de erosão inferiores definem uma discordância induzida por uma descida relativa do nível do mar. Os outros biséis, na parte de cima da tentativa, não definem discordâncias, mas desconformidades associadas à formação e evolução dum meandro. A desconformidade inferior corresponde a uma incisão fluvial, enquanto que as outras são induzidas pelas variações de velocidade da corrente fluvial, o que quer dizer, que há erosão e sedimentação ao mesmo tempo e, praticamente, no mesmo lugar. Como todas as relações geométricas estão na sua posição original (não foram deformadas) elas conservam intacta significação geológica, o que, geralmente, não é o caso quando são deformadas pela tectónica.
Na linha de cima, as relações geométricas foram ligeiramente deformadas e não perderam o significado geológico original. Na linha sísmica inferior, como se pode constatar na tentativa de interpretação geológica, as relações geométricas na base do intervalo amarelo parecem ser biséis de progradação, mas na realidade não são. Elas não estão na sua posição original. Elas foram, totalmente, curvadas, para Este e para baixo, à medida que o intervalo salífero, que as suportava, fluiu lateralmente. Elas correspondem a biséis de progradação aparentes, que não são outra coisa que biséis de agradação que tomaram uma posição oblíqua devido à halocinese. Assim, de maneira nenhuma eles dão sentido do aporte terrígeno como é o caso dos biséis de progradação.
11) Depósitos de Transbordo (Fluviais e Turbidíticos)
Diques naturais fluviais necessitam um rio que para existir tem que ter um leito. Um dique natural turbidítico necessita uma corrente de gravidade que não requer nenhum leito para se escoar costa a baixo.
Esta linha sísmica do Golfo do México ilustra diques marginais naturais fluviais associados com um rio (provavelmente com um meandro, uma vez que os diques marginais só se depositaram de um lado), como sugerido pela tentativa de interpretação geológica desta linha e pelo modelo de deposição de uma barra de meandro. Um rio, como qualquer outro curso de água, necessita de um leito para se escoar, o que não é o caso de uma corrente turbidítica como sugerido na figura seguinte.
Como dissemos previamente um rio ou qualquer outro curso de água necessita dum leito para se escoar, o que não é o caso das correntes turbidíticas. Isto quer dizer que os diques marginais naturais fluviais para se formarem necessitam que a corrente seja restrita (contida entre limites), enquanto que os diques marginais naturais turbidíticos não necessitam de estar associados a um leito ou canal, uma vez que uma corrente turbidítica não é uma corrente restrita. Os diques marginais turbidíticos formam-se da mesma maneira que quando, na praia, se lança o conteúdo dum balde cheio duma mistura de água e sedimentos sobre a areia. O conteúdo do balde (corrente turbidítica) escoa-se sobre a praia (sem leito ou canal) depositando dois montículos laterais alongados de cada lado da zona de escoamento central, que tendo uma velocidade maior transporta os sedimentos para mais longe. O resultado é o depósito de dois diques marginais de cada lado duma zona sem deposição, mais ou menos, rectilínea e um pequeno montículo central um pouco mais longe, formado pelos sedimentos mais finos. Se um segundo lançamento dum conteúdo semelhante se fizer no mesmo sítio, a corrente será um pouco canalizada pela zona sem deposição e dois novos diques naturais se formam, mais ou menos, sobre os anteriores, assim como um outro montículo central, mais ou menos, sobre o primeiro. O depósito dos segundos diques marginais aumenta o relevo entre a zona central sem deposição e zona de deposição dos diques, o que aumentará a canalização das correntes seguintes. Este mecanismo de deposição está esquematizado, longitudinalmente, no modelo geológico da esquerda e, longitudinalmente (mais em detalhe) no modelo da esquerda. A linha sísmica e sua tentativa de interpretação geológica corroboram este tipo de deposição, no qual os diques marginais turbidíticos se depositam de cada lado duma zona sem deposição e não de cada lado dum canal. Contudo, por vezes, uma corrente turbidítica, não necessariamente a primeira, pode, eventualmente, erodir o substrato formando um pequeno vale que muitos geocientistas chamam de maneira errada, do nosso ponto de vista, canal turbidítico.
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Fevereiro, 2015