Uma superfície estratigráfica pode ser considerada como um limite físico contínuo. Três grandes grupos de superfícies estratigráficas podem ser observados no campo ou nos dados sísmicos:

a) Superfícies estratais

Os planos de estratificação e os reflectores sísmicos cronoestratigráficas são superfícies estratais. Um reflector sísmico representa um intervalo sedimentar, mais ou menos, espesso. A espessura deste intervalo depende da resolução sísmica, que pode variar entre 10 e 100 metros.

b) Superfície de descontinuidade

As superfícies de descontinuidades são superfícies físicas causadas pela erosão ou por um período de não-deposição. Elas incluem :

(i) Não-conformidades ;

Superfícies causadas pela erosão.

(ii) Paraconformidades ;

Superfícies que separam estratos paralelos com um hiato de não-deposição.

(iii) Hiatos deposicionais.

Estes hiatos podem ser definidos por:

a) Bisel Superior / Bisel de Progradação ............................ Subaério / Subaquático

b) Bisel de Progradação / Truncatura Aparente .............. Subaquático / Subaquático

c) Bisel de Agradação / Concordância ................................. Subaquático / Subaquático

c) Superfícies diacrónicas

Neste grupo estão incluídas as superfícies transgressivas retrogradantes (retrogradação) e, nos dados sísmicos, os reflectores associados com os planos de contacto gás /óleo ou gás / água (superfícies brilhantes).

O limite estratigráfico que separa rochas de diferentes ambientes sedimentares ou fácies (litologia), pode ser: (i) síncrono, isto é, paralelo as superfícies estratais ou (ii) diacrónico, ou seja, obliquo, quer isto dizer que passa através das superfícies estratais.

Nesta tentativa de interpretação geológica provisória de linha sísmica do offshore convencional de Angola, onde a fluência lateral e vertical do intervalo salífero é evidente, podem observar-se inversões tectónicas induzidas pelo sal. As relações geométricas originais de bisel de agradação foram inclinadas para o continente (Este) e tornaram-se semelhantes, em geometria, a biséis de progradação. Lembramos que um bisel de agradação é uma relação geométrica contemporânea do depósito, que pode, mais tarde, ser, mais ou menos, deformada por regimes tectónicos regionais ou locais, pós-deposicionais. Sismicamente, ou seja, tendo em conta a resolução sísmica, o intervalo salífero não é contínuo, o que sugere a presença de várias suturas salíferas (representadas nesta interpretação por círculos coloridos). O truncamento dos reflectores sísmicos observado no fundo do mar, assim como a geometria inclinada para Oeste da base do sal, a qual corresponde a uma desarmonia tectónica (os sedimentos suprasalíferos e infrasalíferos estão deformados de maneira muito diferente) é uma consequência do levantamento da parte proximal da bacia do Kwanza (onshore e offshore convencional), que ocorreu no Terciário Superior. Isto quer dizer que, muito provavelmente, uma quantidade de sedimentos não negligenciável foi erodida e que muitos biséis superiores (sem erosão) desapareceram dando lugar a biséis por truncatura. Dentro do intervalo sísmico colorido em verde podem-se diferenciar dois pacotes sedimentares com geometrias diferentes. O pacote superior tem uma geometria progradante, enquanto que o pacote inferior, embora muito deformado pelos movimentos do sal, exibe uma geometria retrogradante. O pacote superior está associado a uma regressão (deslocamento da linha da costa e dos depósitos costeiros para o mar), enquanto que o pacote inferior está associado a uma transgressão (deslocamento dos depósitos costeiros e da linha da costa para o continente).

d) Discordâncias

Discordâncias são superfícies estratigráficas discontínuas.

Nesta linha sísmica do offshore da Noruega, várias discordâncias (superfícies de erosão) podem ser identificadas. Estas superfícies truncam os sedimentos subjacentes e são fossilizadas (cobertas) por biséis de agradação dos estratos sobrejacentes. Além disso, duas superfícies da base de progradações maiores são facilmente reconhecidas. As discordâncias são caracterizadas pelos biséis de agradação dos sedimentos sobrejacentes e pelos biséis superiores ou pelos biséis somitais (truncatura) dos sedimentos do ciclo estratigráfico inferior. As superfícies basais de progradação, que separam os intervalos transgressivos (geometria retrogradante) dos regressivos (geometria progradante), são caracterizadas, pelos biséis de progradação dos sedimentos regressivos sobrejacentes e, inferiormente, pela concordância dos sedimentos transgressivos. As superfícies da base das progradações sublinham um hiato de sem-deposição (ou de condensação), uma vez que a linha da costa está em montante e muito distante da ruptura da bacia, o que caracteriza uma plataforma continental.

O hiato (tempo) associado às discordâncias pode representar :

a) Um período prolongado de exposição subaéria, com uma erosão mínima, localmente, com vales cavados e erosão de canais fluviais ;

b) Um período de levantamento com uma importante erosão subaéria dos estratos ;

c) Uma erosão submarina induzida por correntes turbidíticas, deslizamentos ou a correntes submarinas.

Uma erosão submarina induzida por correntes de gravidade (correntes turbidíticas) é, geralmente, local. As discordâncias associadas com este tipo de erosão são locais e localizadas, principalmente, nos ambientes sedimentares de águas profunda (talude continental e planície abissal). Estas discordâncias não tem equivalente em ambientes de águas rasas. Consequentemente, elas não são limites dos ciclos estratigráficos, salvo quando estes são incompletos, ou seja, quando eles são apenas compostos por sedimentos de água profunda. Os levantamentos (encurtamentos tectónicos induzidos por regimes compressivos) e a erosão são caracterizados por:

(i) Biséis de agradação sobrejacentes (por cima) da superfície de discordância e
(ii) Truncamento por debaixo.

Muitas vezes, os geocientistas põem em evidência as discordâncias pelos vales cavados (ou incisos) associados, contudo, eles confundem, muitas vezes, vale cavado com preenchimento dum vale cavado, assim como eles confundem vale com preenchimento de um vale ou canal com preenchimento de um canal. Um vale é uma morfologia que corresponde um lugar de terra baixa limitado por terras altas. Um preenchimento de um vale ou vale enchido, são os sedimentos, mais ou menos, consolidados depositado por qualquer agente, que preenchem total ou parcialmente  um vale. Um canal é o leito onde um corpo natural de água flui ou pode fluir. Um canal preenchido ou enchido são os sedimentos depositados num canal, especialmente quando o canal é abandonado ou quando a capacidade de transporte da corrente é insuficiente para remover o material que lhe é fornecido.

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Ultima modificação
: Fevereiro, 2015