Qualquer tentativa de interpretação geológica duma linha sísmica e, particularmente, das interpretações sequências, ou seja, das interpretações feitas em ciclos estratigráficos, quer eles sejam ciclos-sequência ou subciclos de invasão continental, têm, imperativamente, que ser calibradas e testadas pelos resultados dos poços de pesquisa. Os reflectores sísmicos principais, em particular, os que correspondem a discordâncias, têm que ser datados. Contudo, a datação de uma discordância é, relativamente, difícil, uma vez que uma discordância corresponde a uma superfície de erosão induzida por uma descida relativa do nível do mar. A idade de uma discordância é a idade da descida relativa do nível do mar, a qual é dada pela idade do hiato mínimo entre os sedimentos subjacentes e sobrejacentes à discordância. A idade do hiato mínimo entre dois ciclos-sequência consecutivos (separados por uma discordância e a sua desconformidade correlativa em água profunda) é dada pela idade dos cones submarinos de bacia do ciclo-sequência superior. Quando um poço de pesquisa atravessa unicamente sedimentos de alto nível do mar, a idade da discordância só pode ser determinada indirectamente, visto que o hiato entre os sedimentos dos dois ciclos-sequência adjacentes à discordância é muito grande (o hiato diminui em direcção do mar profundo).
Esta tentativa de interpretação geológica do autotraço duma linha sísmica do offshore convencional da Bacia do Kwanza (bloco 6) não está feita em ciclos-sequência, mas em pacotes sísmicos que correspondem a subciclos de invasão continental. Na realidade, exceptuando os depocentros terciários (nesta linha há dois depocentros evidentes), nos quais a taxa de sedimentação é muito importante, nos sectores com uma taxa de sedimentação normal (jangadas tectónicas) os ciclos-sequência são pouco espessos para se poderem identificar correctamente. O intervalo salífero (colorido em rosado) é muito descontínuo (quatro suturas salíferas são visíveis) e deformado. A base do sal e as suturas salíferas marcam a desarmonia tectónica induzida pelos movimentos do sal. Debaixo da desarmonia tectónica, a formação Cuvo (colorida em amarelo) é facilmente reconhecida. A sua espessura diminui de Oeste para Este. Debaixo da formação Cuvo, uma grande espessura (limite inferior difícil de determinar) de escoamentos de lava, que inclinam e se espessam para a bacia (Oeste), é mais que provável. À vertical das cicatrizes salíferas (zonas de falha preenchidas por sal) os reflectores sísmicos associados ao vulcanismo subaéreo são deformados pelas variações laterais de velocidade induzidas pelas variações laterais da espessura do sal (ver figura seguinte). Ao contrário dos sedimentos infrassalíferos da margem (a discordância da ruptura da litosfera não é visível, uma vez que ela é inferior aos escoamentos vulcânicos), os sedimentos suprassalíferos estão muito deformados. Dois intervalos sedimentares principais são reconhecidos nos sedimentos suprassalíferos cretácicos e três intervalos nos sedimentos terciários dos depocentros (fora dos depocentros acima dos sedimentos cretácicos unicamente dois intervalos terciários são reconhecidos. Todos este intervalos foram calibrados pelos poços de Flamingo 1 e Águia 1 (localizado noutra linha sísmica), como ilustrado na figura seguinte.
Nesta calibração feita a partir dos resultados do poço de Flamingo 1, utilizou-se uma diagrafia de velocidade (sónico) para calibrar os intervalos sísmicos considerados. O intervalos salífero (em violeta) é associado com uma zona de baixa velocidade entre os sedimentos carbonatos (em verde) e os arenitos da formação Cuvo (em amarelo). O poço atravessou quase 1000 metros de escoamentos de lava (em rosado), que nesta linha (orientada SO-NE) exibem uma inclinação de cerca de 10-20° para SO. Acima do intervalo salífero, o intervalo colorido em verde escuro corresponde ao conjunto dos sedimentos da formação Binga (carbonatos), formação Mucanzo (arenitos), formação Catumbela (carbonatos) e formação Cabo Ledo (carbonatos). O intervalo verde claro corresponde ao conjunto das formações argilo-arenosas do Itombe e do N'Golome. O intervalo castanho corresponde aos sedimentos da base do Terciário, ou seja, ao conjunto dos sedimentos das formações Cunga e Gratidão, enquanto que o intervalo amarelo corresponde aos sedimentos da formação Quifangondo. A grande diferença entre os resultados do poço Águia 1, localizado numa linha, mais ou menos, paralela à linha que passa pelo poço Flamingo 1, é como se pode constatar facilmente, que poço de Águia 1, atravessou, debaixo dos evaporitos, um grande depocentro infrassalífero que não existe em Flamingo. Por outras palavras, no poço de Flamingo os sedimentos infrassalíferos da margem estão reduzidos a um fino intervalo de arenitos da formação Cuvo sobrejacente ao vulcanismo subaério, enquanto que no poço de Águia, mais de 600 metros de sedimentos infrassalíferos foram perfurados sem encontrar o vulcanismo. Acima do sal, os intervalos sísmicos e as formações geológicas são facilmente correlacionadas. Muitas vezes a calibração pode ser feita a partir dum perfil sísmico vertical (PSV) que é a implementação da sísmica de poço mais vulgarmente utilizada. Esta implementação requer uma fonte sísmica, localizada na superfície, e um geofone de poço ancorado sucessivamente a diferentes de profundidades. A fonte tem uma posição fixa. Ela é localizada, geralmente, à vertical do geofone de poço qualquer que seja a sua profundidade. A sísmica de poço tem uma resolução vertical métrica a decamétrica e uma investigação lateral de algumas dezenas a várias centenas de metros.
Esta figura ilustra os principais eventos geológicos utilizados pelos geocientistas da Total para calibrar as tentativas de interpretação geológicas das linhas sísmicas ao redor de um poço de pesquisa do offshore do Labrador (Canadá). A interpretação sequencial das linhas sísmicas foi calibrada (datação das discordâncias) pela interpretação das diagrafias eléctricas, diagrafias de penetração e análise micropaleontológica dos detritos de sondagem. As discordâncias (superfícies de erosão) são os eventos geológicos mais difíceis de datar. O estudo micropaleontológico dos detritos de sondagem não é suficiente. Na realidade, quando um poço atravessa uma discordância, o estudo micropaleontológico dos detritos de sondagem permite apenas de datar os intervalos imediatamente acima e abaixo da discordância. Um tal estudo não permite a datação da descida relativa do nível do mar responsável da superfície de erosão, que sublinha a discordância, uma vez que o hiato entre os dois intervalos é muito grande. Unicamente quando o poço reconhece o hiato mínimo entre dois ciclos-sequência adjacentes, é que micropaleontologia pode datar a discordância que os separa (ou paraconformidade associada en aval). Isto ocorre nas partes mais profundas da bacia, onde discordância reconhecida a montante (talude superior, plataforma e planície costeira) se correlaciona em profundidade com a paraconformidade que limita os ciclos-sequência na planície abissal. A idade de uma discordância é dada pela idade dos cones submarinos de bacia que se depositaram durante a descida relativa do nível do mar que criou a superfície de erosão que marca a discordância.
Na tentativa de interpretação geológica deste autotraço de uma linha sísmica do onshore da Austrália quatorze horizontes foram considerados. Todos eles correspondem a discordâncias (limite de ciclos estratigráficos), onde a erosão é unicamente visível próximo dos rebordos da bacia sucessivos, onde se formam canhões submarinos e vales cavados a quando da descida relativa do nível do mar. O horizonte (6) sublinha uma discordância que foi reforçada pela tectónica, que muitos geocientistas consideram, erradamente, como uma discordância angular induzida pela tectónica. Na realidade, todas as discordâncias são superfícies de erosão associadas com as descidas relativas do nível do mar. A tectónica e, em particular, um regime tectónico compressivo (sigma 1 horizontal) encurta e levanta os sedimentos, mas não provoca nenhuma erosão. Para que haja erosão, os sedimentos têm que ser expostos aos agentes erosivos (água, vento, gelo, etc.), o que só é possível quando há uma descida relativa do nível do mar significativa que põe o nível do mar mais baixo do que o rebordo da bacia (condições geológicas de nível baixo). Um regime tectónico extensivo (sigma 1 vertical) alarga os sedimentos o que provoca uma subsidência e uma subida relativa do nível do mar (agradação). Os resultados do poço de pesquisa Yongala 1 permitem de calibrar os sete primeiros horizontes (discordância reforçada pela tectónica incluída). Para isso utilizou-se a diagrafia do sónico alisada (como anteriormente), o filme sintético (filtro de Ricker 30 Hz) e a linha sísmica, como ilustrado acima.
A Oeste de Luanda, no offshore convencional (bloco de pesquisa 6), no qual Total CAP perfurou vários poços de pesquisa (Águia-1, Cegonha-1, Flamingo-1 e Gaivota-1), o potencial petrolífero dos sedimentos infrassalíferos da margem foi, claramente, reconhecido pelo poço de Águia-1. Como ilustrado neste poço de pesquisa, na parte superior dos sedimentos infrassalíferos da margem (formação Cuvo Cinzento da Petrangol), existem camadas ricas em orgânica, que podem ser considerados como rochas-mãe, uma vez que a sua matéria orgânica está madura. Na parte inferior (formação Cuvo Vermelho), existem fácies carbonatadas. Várias intervalos podem ser considerados como rochas-mãe potenciais e outros como rochas-reservatório nas quais indícios de petróleo foram reconhecidos. Como esta tentativa de interpretação geológica, sugere não há nenhuma armadilha nos sedimentos infrassalíferos na região de Aguia-1. As ondulações desses intervalos são, claramente, induzidas pelas variações laterais de velocidade provocadas pelo sal, pelos carbonatos (jangadas tectónica) e pelos depocentros terciários. Sob o ponto de vista estratigráfico, é interessante notar que : (i) A discordância de ruptura (em branco) limita o embasamento (Granito-gnaisse ou rochas da formação Mayombe), dentro do qual nenhuma bacia de tipo-rifte é discernível ; (ii) Imediatamente acima da discordância de ruptura se depositaram escoamentos de lava (em violeta) ; (iii) A discordância do topo dos escoamentos de lava marca o início dos sedimentos infrassalíferos da margem que formam um enorme depocentro dentro do qual um intervalo com rochas-mãe é provável (intervalo alaranjado). Este depocentro infrassalífero da margem, que nesta região só foi atingido por dois poços de pesquisa (Águia-1 e Falcão-1), prolonga-se para o onshore. Ele é muito bem visível nas novas linhas sísmicas tiradas pela Sonangol), mas nunca foi reconhecido, de maneira significativa, pelos poços da Petrangol ou da Total CAP. Todo ou quase todo o potencial petrolífero remanescente do onshore do Kwanza está associado a este depocentro infrassalífero.
As calibrações das linhas sísmicas nas quais foram localizados os poços de pesquisa Flamingo-1 e Gaivota-1 (bloco 6), ilustradas nesta figura, são particularmente interessantes. O poço Flamingo-1 calibra uma jangada tectónica de sedimentos cretácicos, enquanto que o poço Gaivota-1 calibra um depocentro terciário. O poço Flamingo-1 reconheceu cerca de 100 metros de sal, enquanto que nenhum sal foi, praticamente, encontrado em Gaivota-1, uma vez que a base do depocentro corresponde a uma sutura salífera. Debaixo do sal, o poço Flamingo-1 reconheceu uma série infrasalíferas (formação Cuvo) pouco espessa, que é, praticamente, inexistente (debaixo da resolução sísmica) em Gaivota-1. Espessos escoamentos de lava foram encontrados em Flamingo-1, ao passo que em Gaivota, debaixo da sutura salífera o poço entrou directamente na crosta continental do Gondwana (granito-gnaisse). Isto quer dizer que a COB ("Continent Oceanic Boundary") ou seja, aqui, o limite entre a crosta continental e a crosta vulcânica subaéria passa entre Gaivota e Flamingo. Esta conjectura está esquematizada na carta que ilustra uma tentativa de cartografia da COB, nas três províncias geológicas (Quenguela, Cegonha e Ambriz) limitadas pelas as zonas de fractura de Hotspur e Mijuca. Os poços Gaivota-1 e Flamingo-1 estão localizados na província de geológica de Quenguela, enquanto que os poços Águia-1 e Cegonha-1 estão localizados na província de Cegonha, na qual a posição da COB é muito próxima da linha da costa. Igualmente, entre a província de Ambriz e de Cegonha, a posição da COB é muito diferente.
A carta geológica e as linhas sísmicas antigas (não-migradas), tiradas pela Petrangol e pela Total CAP, permitiram pôr em evidência um certo numero de estrutura antiformas. Este tipo de estruturas, em forma de campânula, resulta do alongamento dos sedimentos induzido por um regime tectónico extensivo (sigma 1 vertical) criado pelos movimentos do horizonte salífero e deslizamentos gravitários. Em associação com as falhas normais responsáveis do alongamento sedimentar, um grande numero de armadilhas não-esruturais se formaram, em particular, armadilhas morfológicas por justaposição. Contudo, como se pode constatar pelas linhas sísmicas aqui ilustradas, a qualidade dos dados sísmicos (antigos) não permitia o mapeamento da grande maioria das falhas normais, cujo rejeito, muitas vezes, é inferior à resolução sísmica. Quase todos os poços de pesquisa estão localizados, de maneira errada no ápice das antiformas, uma vez que elas eram consideradas como armadilhas estruturais. Tudo isto quer dizer que nenhuma das numerosas armadilhas morfológicas por justaposição foi correctamente testada, o que evidentemente aumenta de maneira significativa o potencial petrolífero remanescente dos sedimentos suprassalíferos. Por outro lado, a calibração dos horizontes sísmicos é muito difícil, uma vez que estes se ponteiam muito mal. Ao contrário, os detritos e testemunhos de sondagem, en particular do poço Chio-1, meteram em evidência a presença de intervalos sedimentares (Campaniano e Mastrichiano) com características de rocha-mãe (matéria orgânica tipo 2) e de rocha-reservatório (arenitos). Aliás, como se pode constatar, os diagramas da taxa de transformação das rochas-mãe e a evolução da janela do petróleo sugerem que a matéria orgânica das rochas-mãe potencias do Mastrichiano nunca atingiu a janela do petróleo e que a matéria orgânica das rochas-mãe potenciais do Campaniano atingiu a janela do petróleo no Miocénico Inicial (± 20-25 Ma). É importante notar, igualmente, que o diagrama da evolução da janela do petróleo mostra, na área de Chio-1, um levantamento da bacia de cerca de 1000 metros.
Na região da Quiçama, o poço Quiçama-2 (igualmente chamado Muxima-2) pôs em evidência quatro intervalos ricos em matéria orgânica de tipo 2 (Conaciano, Cenomaniano, Apciano Superior e Barremiano). Unicamente matéria orgânica dos intervalos Barremiano, Apciano Superior e Cenomaniano atingiu a janela do petróleo, mas a épocas diferentes. A rocha-mãe cenomaniana atingiu a janela do petróleo no Miocénico Inicial (±20-25 Ma), enquanto que a rocha mãe do Apciano Tardio a atingiu cerca de ± 50-55 Ma e rocha mãe barremiana a atingiu cerca de ± 70 Ma. Note que nesta área o levantamento da bacia parece ter começado mais cedo do que na região de Chio, ou seja, ±20-25 Ma contra ±10 Ma. Por outro lado, a amplitude do levantamento parece ter sido menos importante.
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Fevereiro, 2015